O exercício do debate em sala de aula contribui para que os(as) estudantes desenvolvam habilidades argumentativas, praticando a escuta e fundamentando as falas. Além disso, e tão importante quanto, possibilita o aprendizado do tema em questão. Para essa atividade, normalmente é realizado um debate romano, com direito a alunos(as) vestidos(as) a caráter. No ensino remoto, foi um pouco diferente, mas não menos produtivo, e
teve até contribuição das famílias nas pesquisas! Os(as) alunos(as) do 8º ano, divididos(as) em grupos, desenvolveram discursos argumentativos contra e a favor da reforma agrária na República Romana, no século II a. C, representando os próprios sujeitos envolvidos (patrícios e plebeus). Confira abaixo o material produzido por um dos grupos.
DEBATE ROMANO – exercício de argumentação
Por Alice Badin, Ariel Kusniec, Bruna de Souza, David Farah e Felipe Padovan
8ºB
Logo que a Reforma Agrária foi proposta para o povo romano em 133 a.C, patrícios e plebeus desenvolveram olhares distintos sobre a ideia de uma nova reorganização fundiária, em que as terras públicas seriam distribuídas entre os plebeus.
A maioria do grupo dos optimates (partido senatorial dos aristocratas patrícios) era contra a reforma e não admitia que ela ocorresse. A plebe, especialmente a rural, era a favor do projeto, e pressionou muito Tibério Graco para que ele introduzisse as normas fundiárias. Os pontos de vista diferentes refletiram um grande conflito entre os dois grupos sociais. A reforma agrária em si não aplacou a crise social do Século II a.C, mas sim a agravou, acirrando o conflito entre os dois grupos de romanos. Essas visões foram distintas, pois Roma não era uma, mais sim duas, os patrícios e plebeus viviam com direitos diferentes. Roma não passava junta e unida pelos mesmos desafios.
Para articular seus pontos de vista, patrícios e plebeus utilizavam argumentos em defesa de suas teses. Pensando nisso, organizamos um debate entre eles, para expor argumentos em defesa de suas posições. Todas as informações são baseadas em estudos e seguem princípios históricos. Imaginamos então um debate da seguinte maneira:
Plebeus: Roma está se expandindo territorialmente. Toda glória trazida para nossa República foi através das guerras. A linha de frente de nossas legiões é composta pela plebe. Nosso sangue e alma é que são postos em risco durante a batalha. Portanto, consideramos que as terras dominadas com nossos esforços militares e o sacrifício de nossas almas também deveriam nos ser destinadas. Enquanto estávamos nas guerras, nossas propriedades foram perdidas. Nós assumimos dívidas impagáveis depois de várias safras fracassadas. Nossas mulheres e filhos não tiveram condições de mantê-las sozinhas, enquanto guerreávamos para a maior glória do Senado e do Povo de Roma. Em razão disso, quem tinha pouco, perdeu o pouco que tinha. Quem tinha muito, passou a ter muito mais. Sem nós, nem existiram as terras do ager publicus. Fomos nós que as conquistamos. Portanto, as terras são a recompensa justa pelo nosso mérito militar. Lembrem-se sempre disto: o primeiro legionário que pisou sobre Cartago foi um plebeu. Foi o nosso número que esmagou o poderoso Aníbal.
Patrícios: Vocês, plebeus, podem até ser a linha de frente do nosso grandioso exército, mas já pararam pra pensar que se nós não financiássemos as guerras, vocês não sobreviveriam sequer uma semana em batalha? Quem os alimentou? Quem comprou nossas mais temidas armas, como as torres móveis? As terras públicas não devem ir para vocês, pois fomos nós que investimos dinheiro na guerra. As terras conquistadas devem terminar em nossas mãos, sendo um retorno do dinheiro investido e o pagamento legítimo dos empréstimos que nós fizemos à República romana. Um bando desajeitado de plebeus conseguiria, sem a inteligência, a bravura, a virtude e o exemplo de nosso herói patrício, Caio Mucio Cévola, resisitir aos ataques que sofremos, no início da República, depois que expulsamos o último Tarquínio? Sem a reação do nobre Camilo, tempos depois, provavelmente os romanos de hoje estariam falando a língua bárbara dos gauleses comandados por Breno, que nos saquearam impiedosamente. Nós somos os fundadores da República! Lembrem-se sempre das origens de nossa grandeza! As terras públicas devem se nossas, não de vocês.
Plebeus: A solução para a crise social é a distribuição de terras entre nós, plebeus, que não as temos tantas. Se as terras públicas forem distribuídas, o número de proletários nas ruas irá diminuir. Nós vamos conseguir nos sustentar, sem que o Estado precise distribuir pão. Só assim Roma conseguirá prosperar, sem conflitos internos. E se nós recebermos parte das terras do “ager publicus”, conseguiremos retomar nossa produção agrícola e gerar riquezas para o bem comum. Então poderemos comprar nossos próprios equipamentos militares. Seremos aceitos no exército por termos propriedades e nossas próprias armas. Hoje, as legiões não têm homens suficientes para batalharem. Vocês querem que o exército do Senado e do Povo de Roma permaneça enfraquecido, sem vigor algum?
Patrícios: Somos contra, pois essas terras devem ser redirecionadas a nós e não a um bando de estrupícios desajeitados. Se recebêssemos essas terras, iriámos lucrar muito mais que vocês, pois temos mais condições de manter a propriedade com a nossa mão-de-obra escrava. As terras, em nossas mãos, seriam mais produtivas e eficientes. Iriamos plantar mais alimentos, em grande escala, por preços menores. Com essas terras, conseguiríamos desenvolver e manter a economia da gloriosa Roma, e pagar tributos à República. Não se preocupem: sem alimento vocês não vão ficar, pois essa produção será revertida à glória de Roma, e permitirá, inclusive, a distribuição direta de alimentos à plebe, bem como a organização de grandiosos espetáculos e a construção de magníficas obras públicas, que gerarão bons empregos aos plebeus. Com uma produção maior, menor o preço pago por todos os romanos.
Plebeus: Se as terras públicas fossem destinadas a vocês, patrícios, o número de mão-de-obra escrava iria aumentar. Para manterem os latifúndios produtivos, vocês precisariam usar cada vez mais escravos, sejam escravizados por dívidas, sejam prisioneiros de guerras. Com o aumento do número dos escravos, e com cada vez menos cidadãos servindo nas legiões, aconteceriam rebeliões de escravizados e guerras servis. A Roma erguida pelos soldados-cidadãos inevitavelmente declinaria com distúrbios internos e crises sociais, que só seriam controlados com um uso cada vez mais violento da força. As rebeliões dos escravos destruiriam as terras produtivas. Não se pode conter com legiões o desejo por liberdade. Já é difícil privar um escravo de sua liberdade. Imagine um exército de 1.000 escravos, bem comandados por um líder carismático, que instabilidade não poderia causar?! E tudo isso apenas para que um pequeno grupo de patrícios possa manter os seus latifúndios! É preciso fazer logo uma reforma agraria justa!
Patrícios: Nós, patrícios, rejeitamos a proposta da Reforma Agrária imposta por Tibério, pois ela está sendo feita através de meios que desrespeitam a autoridade do Senado e as instituições da República, entre elas, o próprio tribuno da plebe.
Tibério forçou sua reeleição, sem nenhum precedente em quase 3 séculos de República. Isso viola gravemente as nossas mais antigas tradições. O tribuno só pode ficar um ano exercendo essa magistratura. Tibério acha que é justo expulsar os ocupantes das terras públicas. Mas não pode fazer justiça descumprindo as regras e costumes da República. Desde os tempos imemoriais das XII Tábuas, o tribuno da plebe só tem mandato de um ano, sendo proibida a reeleição. Mas Tibério insiste em se reeleger para impor sua reforma. No comício em que isso seria decidido, seu colega, o tribuno Otávio, vetou a medida. Tibério então o expulsou da assembleia popular, agredindo duas vezes a lei republicana, praticando duas violências. Primeiro, ele não respeitou o veto exercido por Otávio, o maior poder tribunício. Segundo, ao removê-lo à força do comício, sob as varas dos lictores, Tibério atacou a inviolabilidade física de Otávio. Ora, nossas tradições mais antigas dizem que o tribuno da plebe é inviolável, por ser considerado uma figura sacrossanta. Tibério quer instituir uma regra quebrando outras. Isso é inadmissível. Pratica a violência para impor sua vontade. Mas, com essa atitude lamentável, só agrava os conflitos internos e perturba a paz social!
Tibério quer provocar uma mudança brusca nas regras que constituem a República romana, quebrando tradições centenárias. Novas regras não serão instituídas, Tibério quer introduzir a Reforma Agrária, pois acha que uma nova reorganização fundiária é mais justa, mas como ele quer falar de justiça se está cometendo uma ilegalidade se reelegendo. Como o justo pode vir do injusto?!
O Senado fará tudo para que sua autoridade seja respeitada e não dará o beneplácito para uma Reforma Agrária instituída de forma contrária às leis e tradições da República. É preciso, antes de tudo, conservar o Estado.
Ó tempos, ó costumes. Até quando, Tibério, abusarás da nossa paciência?!