Mobilizado pelas disciplinas de Filosofia e Sociologia, esse verdadeiro ritual de passagem ajuda também as alunas e alunos a elaborarem sua despedida da escola de modo ao mesmo tempo afetivo, político e pedagógico. Durante as oficinas de estêncil, as discussões rememoram os conteúdos aprendidos em meio ao resgate das vivências entre a turma, canalizando toda essa experiência numa mensagem às gerações mais novas, como quem passa o bastão ou a tocha do conhecimento a não ser jamais perdido nem apagado. O filósofo Gilles Deleuze nos ajuda a compreender melhor a profundidade dessa proposta ao nos ensinar que enquanto a Filosofia traça um plano de imanência e pensa através de conceitos, a arte traça um plano de composição, pensando por sensações. As ilustrações do nosso grafite são justamente o diálogo entre esses dois saberes e preenchem o espaço escolar com as provocações de ideias que nos fazem sentir e de sensações que nos fazem pensar. É o que pode ser conferido nas fotos dessa arte tão paulistana e tão pulsante.
No começo desse ano, no curso de Filosofia aprendermos sobre Schopenhauer e vimos o que ele fala sobre a arte. Segundo o filósofo, se considerarmos a existência como um sofrimento constante, a arte nos salva, ainda que brevemente. Esse ano, a arte nos salvou. Depois de tantas perdas, não só nossas, mas do mundo inteiro, o projeto do grafite foi para mim, e acho que para vários colegas, como um último respiro. Foi a possibilidade de se unir como uma série e colocar a mão na massa, dando asas para nossa criatividade. No momento de deixar a escola, relembramos sobre o curso de Filosofia e Sociologia nos nossos três anos de Ensino Médio para podermos deixar algo marcado nas paredes do Gracinha, lugar querido e amado. O aprendizado sobre o processo técnico do grafite despertou um interesse em arte, adormecido em mim, sendo ainda mais importante nesse período de se formar. O grafite deixado pela terceira série de 2020 representa a hostilidade desse ano, árido como o deserto. Representa uma jornada de evolução e uma quebra de expectativa. As desigualdades sociais que sempre existiram, mas que muitos só tomaram consciência por conta da pandemia, aparecem no oásis, a qual nem todos podem ter acesso. Fico muito feliz por ter tido a oportunidade de participar de um projeto como esse. Beatriz Schroeder de Almeida 3º C
Quando penso em grafite, já tenho a ideia de uma forma de expressão, um jeito de expor os sentimentos, angústias, insatisfações ou também satisfações. Esse ano de 2020 foi o nosso ano de grafitar uma parte da escola, é um momento esperado durante todo o ensino médio e justamente quando ele chegou, tivemos a pandemia. Foi um ano difícil cheio de perdas mas também aprendizados, e felizmente conseguimos ter a chance de grafitar, e então colocarmos nossos sentimentos e vivências desse ano atípico, marcado na parede de um lugar tão especial. Pode não ter sido o ano que esperava, presencialmente e com todos os rituais do terceiro, mas sei que a nossa marca vai estar na escola, fazendo um pouco desse papel que não pudemos, de marcar esse ano no coração de todos. Fabio Mariotto Villares 3ºA