Vivemos esbarrando em notícias relacionadas ao sofrimento humano e a como nossa sociedade tem adoecido pela forma que se organiza. Estamos acostumados ao tempo do agora, do imediato, do sem espera, do sem tempo. Sentimo-nos impelidos a corresponder às expectativas de sermos sempre produtivos, rápidos, belos e felizes. Temos fácil acesso a todo tipo de informação e, contudo, carecemos do contato humano e da elaboração conjunta de significado para o que vivemos.
A virtualidade facilita o conectar-se, entretanto, esconde algo perigoso: a facilidade do desconectar. Nos sentimos despreparados e desamparados com a falta de parâmetros e procuramos evitar todo e qualquer desprazer, como se pudéssemos mudar a realidade com um passar de dedos na tela touchscreen.
Receosos das dores dos desencontros, por vezes os relacionamentos são sacrificados ou superficializados, e assistimos com preocupação jovens sem motivação, que se sentem solitários mesmo quando estão em grupo.
Como ajudar as crianças e adolescentes a desenvolverem mais recursos internos para lidar com a vida, sua imperfeição, suas incertezas, suas frustrações? Como mostrar que, na exigência do tempo, há de existir espaço para esperar? O que, da minha própria experiência, eu posso compartilhar para mostrar que há diversos caminhos para o sofrimento?
O imperativo da felicidade nos faz esquecer que a tristeza é parte da vida, nos faz crescer, reinventar e procurar outros caminhos. As ostras felizes não fazem pérolas, nos lembraram Freud e Rubem Alves – é necessário algo que incomode para que surjam renovações. As grandes criações e as mais belas manifestações artísticas vieram das experiências de crise, dos momentos em que chegamos a uma vivência tão dolorosa que foi preciso criar uma nova forma de viver.
Há, porém, uma delicadeza nisso tudo. Poder viver e elaborar uma dor não quer dizer cultuá-la. Abrir espaço para as narrativas de sofrimento não é incentivar reflexões tristes e sem esperança. Pelo contrário, o papel dos adultos – pais e educadores – não é apenas possibilitar o diálogo sobre os temas difíceis, mas também dar contorno ao desespero, à falta de sentido, e sustentar que existem saídas, mesmo que por vezes essa sensação de desamparo seja também sentida por nós. É importante que a criança e o adolescente percebam um adulto seguro de que há caminhos, e que possa lhes mostrar que é preciso confiar no tempo, conseguir esperar, suportar a dor e buscar ajuda. Embora não exista uma solução única e mágica, temos sempre a possibilidade de conversar, de procurar acolhimento, de entender e aceitar as nossas limitações, de aprender com elas.
Justificativas para a felicidade e os infortúnios sempre existirão. O sofrimento ultrapassa as épocas e características de cada sociedade, ele é universal e particular. Cabe a nós lidar com as crises como possibilidades de reconstruir laços, investir na presença, na experiência e na palavra. Buscar e encontrar sentido, descobrir o que os move, o que os emociona, onde está sua curiosidade.
Então, vamos falar sobre isso?
Setor de Apoio à Aprendizagem do Gracinha