Depois de assistirem ao filme “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert, os(as) estudantes do 7º ano conversaram sobre questões abordadas no longa e elaboraram um roteiro de entrevista, a qual foi realizada com alguns familiares.
Assuntos como exploração do trabalho doméstico, situações abusivas e preconceitos permearam os debates.
Além da entrevista, uma aluna escreveu um poema, inspirada na atividade e nas discussões em sala de aula. O poema mobilizou a comunidade do Gracinha, que encaminhou o texto para a diretora Anna Muylaert, que respondeu com carinho.
Para saber mais, confira algumas entrevistas e o poema da aluna.
Onde o sol não chega
Bom dia,
Ela abre a janela do quartinho dos fundos
Ela olha em volta, e mesmo iluminado está tudo escuro
O som do despertador sempre um minuto atrasado
Os risos dos filhos que não são dela
Ela liga a torradeira, ela que faz o café
Ela vê os filhos se despedindo dos pais para ir à escola
O motor da perua escolar ligando
As torradas prontas pulando para fora
Ela põe a mesa para o senhor e a senhora
Ela reclama do calor, ou do frio, não sei dizer
O senhor e a senhora se despedindo
A porta se fechando
E ela fica sozinha
Sozinha com o despertador
Sozinha com a torradeira
Sozinha com um bebê que não é dela
Sozinha com o som da torneira ligada
Sozinha com as janelas abertas
Quem se importa com as janelas?
Mesmo iluminado está tudo escuro
Maldito lugar onde o sol não chega
Ele nunca chega
Nunca
Ela escuta as crianças voltarem
Ela escuta o senhor e a senhora voltarem
O garoto perguntando o que tem para o jantar
A mãe respondendo que não se lembra
Ela cozinha para uma família que não é dela jantar
Ela põe a mesa e ganha um “obrigada” da mais nova
A comida da família está quentinha
O senhor sempre pede um toque a mais de sal
Ela entra em seu quartinho nos fundos
Ela fecha a porta e se deita em sua cama
A gaveta de pijamas bem-organizada
A porta do armário que range
E ela fica sozinha
Sozinha com o armário
Sozinha com os montes de caixas
Sozinha com a janela batendo
Sozinha com um quartinho nos fundos
Sozinha com as luzes acesas
Quem se importa com as luzes?
Mesmo iluminado está tudo escuro
Maldito lugar onde a luz não chega
Ela nunca chega
Nunca
Ela apaga a luz.
Boa noite.
Bom dia,
Ela abre a janela do quartinho dos fundos
Ela olha em volta, e mesmo iluminado está tudo escuro…
Violeta Silveira Bueno Bernardes