Despedida: a aluna
O teatro do Gracinha não é como escola de teatro, não é técnico ou profissionalizante, mas também não é teatro de escola. É teatro de gente grande – de um metro e meio ou mesmo de treze anos. Gente grande.
O processo de sair do Gracinha é traumatizante. Parece que a gente deixa um pedaço para trás – um braço, uma perna, um fio de cabelo. Não sei. O teatro… o teatro é o mais difícil. Porque não é um braço que fica quando a gente sai. É o corpo todo. É cada célula e molécula, é cada respiração, cada lágrima e cada dor.
Continuar no teatro como ex-aluna é tentar cicatrizar aos poucos o buraco que a saída do Gracinha deixa. Mas, mais do que uma recuperação, o teatro é um fim em si mesmo. A gente continua crescendo depois da escola e aprendendo a entender o mundo lá fora; o teatro é uma cama elástica que nos faz voar, mas também voltar. É porto que nos faz navegar e ancorar. Por isso, ficamos.
Permanência: a ex-aluna
Retorno: a espectadora
Ver de fora pela primeira vez a peça do grupo de quarta-feira, exclusivo de alunos, foi muito diferente. Em “Gato Malhado e Andorinha Sinhá”, deu para ver que o grupo aprendeu a conciliar, a equilibrar, a encaixar.
Cada um no palco foi especial. Eles conciliaram o riso com a morte, a dor com a leveza, o charme com um coração partido. As cantorias me mataram mais do que qualquer cascavel poderia matar. Tudo estava ensaiado, encaixado. A energia, as vozes, o amor. Tudo conciliado.
Foi muito estranho ver de fora pela primeira vez, mas percebi que está tudo bem sair do teatro, desde que ele não saia da gente e das pessoas que a gente mais ama.
Flávia Pereira
Ex-aluna do Gracinha
Graduanda de Relações Internacionais na PUC-SP
Atriz do Núcleo de Aprofundamento Vicky Bastos do Gracinha