Arthur Rimbaud, um poeta francês, disse que a eternidade era o Sol misturado com o mar.
O projeto “Gracinha em Cena” proporciona aos alunos e alunas da 1ª série do ensino médio a montagem de uma cena teatral com um roteiro criado por eles no laboratório de redação, precedido por aulas preparatórias de noções de direção, interpretação, luz e sonoplastia.
Uma dessas aulas, realizada em abril, foi ministrada por duas alunas da 3ª série do ensino médio, Laura Braga e Cecilia Azevedo, e por uma ex-aluna e graduanda de Pedagogia, Laura Moraes. No palco do tão concorrido auditório da escola, as três alunas declamam Vinicius de Moraes, cantam e atuam, mostrando para os mais novos as possibilidades que o palco pode aflorar em cabeças de criatividade latejante.
“Uma aula que pulsa teatro. Para mim, essa aula é mostrar que teatro é repleto de magia, tanto para quem assiste quanto para quem faz. A eternidade é mesmo grande demais para caber em 50 minutos de aula, ou em qualquer coisa. Mas ao invés do Mar, ao invés do Sol, pode ser o palco e a luz, a maquiagem ou o texto, porque no teatro cabem universos. Cabem expressões de alunos, cabem gritos de esperança, cabem lágrimas anônimas… cabe até seu livro favorito. Tantas histórias, tantas cores, tantas vidas, tantas pessoas, tantas artes. Teatro é uma arte linda. E usar arte no âmbito acadêmico é transformar o bonito em aprendizado. O teatro pode ser usado como ferramenta para transformar o texto em cena, através dos olhos dos alunos que montam, através dos olhos dos outros que assistem! Como aluna digo que é uma delícia mostrar, um uma aula, que construir conhecimento em forma de arte é possível!”, diz Laura Braga, 16 anos.
A aluna Cecilia Azevedo, 17 anos, que pretende prestar Artes Cênicas no fim do ano, também relata a importância do teatro dentro da escola.
“A aula que foi dada por nós foi uma experiência incrível, indescritível e inesquecível. Estando no terceiro colegial, às vezes acabo me perdendo no meio de tanta coisa para fazer. Mas passar três aulas no palco para contribuir com o Gracinha em Cena foi um tempo fora de tudo isso.
No meio de tantos horários, tantas contas, tantas questões, a arte torna-se um refúgio necessário. Não digo que o projeto seja somente diversão, muito pelo contrário, o trabalho realizado no palco é sério e requer esforço, como muitos realizados em sala de aula. Só digo que fico feliz que temos tempo para o “fazer arte” dentro da escola, algo que, na minha visão, é essencial para os alunos e não pode faltar.
Quando estava dando as aulas, nem notei o tempo passar. Tudo o que lá fizemos foi muito gostoso e percebi essa mesma empolgação com os alunos do primeiro ano. Depois disso, fiquei com uma vontade enorme de participar dessas aulas mais vezes. Queria muito ter tido esse projeto quando estava no primeiro ano. Mas, mesmo assim, já fico muito realizada de ter participado e poder ajudar os outros alunos no Gracinha em Cena. ”
Laura Moraes, 18 anos, que concluiu o ensino médio em 2017, ressalta que os ensinamentos aprendidos nas aulas de teatro do Gracinha serão levados também para o campo profissional. Mesmo não tendo optado por Artes Cênicas.
“Nos sete anos que fiz teatro no Gracinha, só pude perceber a importância da educação teatral. Já saí da escola e faço Pedagogia, e sempre que posso incluo as dinâmicas que aprendi nesses sete anos, que funcionam desde os pequeninos até os mais velhos. Foi muito bom voltar no lugar de quem ensina e trabalhar com adolescentes do primeiro do médio, tarefa difícil pela responsabilidade, mas muito prazerosa. Sempre que for convidada voltarei, para dividir, acrescentar e aprender também. ”
O projeto Gracinha em Cena está em suas primeiras aulas. A junção da disciplina de português com as oficinas de teatro ainda derramará muito suor ao longo do ano. Seriedade, disciplina, estudo, responsabilidade e parceria. E, ao cair do pano, o aplauso será apenas consequência.
Rafael Masini
Professor de Teatro